terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

D.Sebastião- Historia, em Mensagem e Lusíadas

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HISTORIA

D. Sebastião, filho do Príncipe D. João e D. Joana de Áustria, era o único descendente do Rei D. João III uma vez que o seu pai tinha morrido antes do seu nascimento, estando a sucessão do reino a depender do sucesso do parto.

O problema que ocorria em Portugal não era a falta de herdeiros, mas por causa do contrato de casamento de D. Maria, irmã do príncipe defunto, com D. Felipe II de Castela, pelo qual, caso não houvesse sucessores, o reino passaria ao filho desta união, D. Carlos, ocorrendo a união com Castela.

Em virtude de ser um herdeiro tão esperado para dar continuidade à Dinastia de Avis, ficou conhecido como O Desejado.

Durante a sua menoridade, a regência foi assegurada pela sua avó D. Catarina da Áustria, que sendo acusada de sofrer influências da Corte espanhola pede a demissão de regente, continuando, no entanto, como tutora de D. Sebastião. Nessa altura foi eleito como regente o Cardeal D. Henrique, o seu tio-avô.

Entre 1557 e 1578, ou seja, a regência de D. Catarina, D. Henrique e o curto reinado de D. Sebastião, a atividade legislativa centrou-se em assuntos do foro religioso, como a consolidação da Inquisição e sua expansão até à Índia, a criação de novas dioceses na metrópole e nas colónias. A única realização cultural importante foi o estabelecimento de uma nova universidade em Évora. Para além da aquisição de Macau e Damão, a expansão colonial foi interrompida. Investiu-se muito na defesa militar dos territórios. Na rota para o Brasil e a Índia, os ataques dos piratas eram constantes e os muçulmanos ameaçavam as possessões em Marrocos. Procurou-se assim proteger a marinha mercante e construir fortalezas ao longo do litoral.

No entanto, estas evidências pouco interessavam a D. Sebastião. O jovem rei cresceu educado por Jesuítas, de saúde precária, resultado de casamentos entre a mesma família desde várias gerações. D. Sebastião mostrou desde muito cedo duas grandes paixões: a guerra e o zelo religioso. Cresceu na convicção de que Deus o criara para grandes feitos, e, educado entre dois partidos de interesses opostos - o de sua avó que pendia para a Espanha, e o do seu tio-avô o cardeal D. Henrique favorável a uma orientação nacional.

Nunca se interessou pelo povo, nunca reuniu cortes, só pensando em recrutar um exército e armá-lo, pedindo auxílio a Estados estrangeiros, contraindo empréstimos, arruinando os cofres do reino, tendo o único objetivo de ir a África combater os mouros.

Aos 14 anos, D. Sebastião assume a governação.

D. Sebastião começou a preparar a expedição contra os marroquinos da cidade de Fez. Filipe II de Espanha, seu primo, recusou participar e adiou o casamento de D. Sebastião com uma das suas filhas para depois da campanha. Tinha 24 anos de idade.

Na batalha de Alcácer-Quibir, os portugueses sofreram uma derrota e perderam uma boa parte do seu exército. Quanto a D. Sebastião, morreu na batalha ou foi morto depois desta terminar, iniciando a crise dinástica de 1580 que levou à perda da independência para a dinastia Filipina.

Durante os anos que se seguiram, o povo acreditava que D. Sebastião não tinha morrido na batalha e iria regressar a Portugal, numa noite de nevoeiro. Então, reclamaria para si o trono e o reino ganharia de novo a sua independência. Esta crença popular ficou
conhecida com o nome de “Sebastianismo”, ficando, desde então, D. Sebastião também conhecido como O Encoberto ou O Adormecido.

Em 1582, Filipe I de Portugal mandou transladar para o Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa, um corpo que alegava ser o do rei desaparecido, na esperança de acabar com o Sebastianismo, o que não resultou, nem se pôde comprovar ser o corpo realmente o de Sebastião I.





MENSAGEM


1ª Parte: Brasão

III. As Quinas

D. Sebastião, Rei de Portugal


Louco, sim, louco, porque quis grandeza (Louco mas apenas por querer mais)
Qual a Sorte a não dá. (Por procurar para além da sorte)
Não coube em mim minha certeza; (Mas foi maior do que ele a sua vontade)
Por isso onde o areal está (Por isso sucumbiu no areal de África )
Ficou meu ser que houve, não o que há. (Ficando lá o seu corpo mas não a sua memória, o seu mito)


Minha loucura, outros que me a tomem (O meu desejo, a minha ambição, outros que a concretizem)
Com o que nela ia. (Em toda a sua extensão)
Sem a loucura que é o homem (Sem o desejo por algo maior, o que é o homem?)
Mais que a besta sadia, (Nada mais é do que um animal com saúde)
Cadáver adiado que procria? (Alguém que tem filhos, uma prole, mas que espera apenas pela morte)






Análise da 1ª estrofe


Na sua obstinação de ser o líder de uma cruzada no Norte de África, D. Sebastião foi mal preparado para a batalha de Alcácer-Quibir, que provou ser desastrosa, pelas mortes que provocou e pela subsequente perda da independência de Portugal face a Espanha.

Os intentos de D. Sebastião foram apelidados de “loucura” por D. Filipe II de Espanha, que foi convidado pelo rei Português a se juntar à expedição. Menos de uma loucura não era certamente, atacar as forças militares dos “infiéis” de frente, com um exército mal preparado e à frente do qual estava um rei inexperiente e impulsivo.

Diz-nos Pessoa que ele era louco, mas “porque quis grandeza/ Qual a Sorte não dá”. Ou seja, D. Sebastião foi à procura da glória, arriscando tudo. A grandeza que ele buscava, é da índole que não vem só com a sorte, mas com a predestinação e a coragem. Mas nele não “coube” a sua “certeza”, o mesmo é dizer: ele não era o bastante para conter o que acabou por ser a sua maior conquista, apesar da morte: o seu mito renascido. É o que confirma Pessoa, quando diz “onde o areal está/ Ficou meu ser que houve”. “Não o que há”, porque “o que há” é o mito de D. Sebastião, já o “O Encoberto”, não mais o “O Desejado”.



Análise da 2ª estrofe


É esta ima das passagens mais célebres de Mensagem, pela sua beleza e crua evocação de imagens. Começa Pessoa por dizer que o destino que D. Sebastião desejava ser o seu – o de líder de cruzada – pode ser passado a outro (“Minha loucura, outros que me a tomem”). Fala, mais do que esse Destino em específico, da loucura que é desejar algo maior. Essa loucura é infinita e pode ser de qualquer um que a deseje. Esse é o significado de “outros que me a tomem/ Com o que nela ia”.

Sem esse deseja em alcançar algo maior do que o próprio homem, o que somos nós afinal, pergunta o poeta. De seguida nos responde: nada “mais que a besta sadia, / Cadáver adiado que procria”. O remate da estrofe, de imensa genialidade, deixa o leitor a pensar na escolha que deve fazer quando analisa a figura de D. Sebastião. Deve optar pela figura do rei louco e doente, fraco capitão de homens ou antes pela figura do nobre Português que ousou desejar e morreu na busca dessa glória? 


OBSERVAÇÕES: construção caótica do ritmo e rímica para enfatizar o adjetivo “louco”



3ª Parte: O Encoberto

O título “O Encoberto” avisa-nos – jogando com os epítetos de D. Sebastião que fora “O Desejado” antes de nascer e “O Esperado” depois de morto em batalha – que se vai falar de mistérios, de realidades por revelar. Usando o mito mais forte em Portugal – Pessoa equipara D. Sebastião, em força, a Jesus Cristo – pretende o poeta iniciar uma revitalização da alma nacional.


I. Os Símbolos


D. Sebastião
Sperai! Caí no areal e na hora adversa (D. Sebastião pede tempo, depois cai no areal, morto)
Que Deus concede aos seus (A morte é a hora adversa que Deus concede aos seus)
Para o intervalo em que esteja a alma imersa (A morte é um intervalo em que a alma está imersa)
Em sonhos que são Deus. (Imersa em sonhos que são Deus)




Que importa o areal e a morte e a desventura (A morte no areal de Marrocos e mesmo a desventura não são importantes)
Se com Deus me guardei? (Porque a alma do Rei está guardada)
É O que eu me sonhei que eterno dura, (Quem a guarda é Deus e a memória do Rei já mito)
É Esse que regressarei. (Será esse mito que regressará, ou seja, o Rei já noutro corpo)



Análise da 1ª estrofe


“Esperai!” é uma lembrança das últimas palavras do Rei que, segundo se diz, terá dito estas palavras na hora da sua morte “morrer, sim, mas devagar”.

A “hora adversa” é a hora da morte que “Deus concede aos seus”.

A morte é vista por Pessoa como um momento transitório: “o intervalo” em que a alma está “imersa/ Em sonhos que são Deus”. Não é um estado permanente, apenas uma transição da vida que conhecemos para outra vida futura.





Análise da 2ª estrofe

Para quem acredita na imortalidade da alma, como Fernando Pessoa, como nos é dado a entender, a morte não tem significado porque o a nossa essência (alma) está guardada por Deus. Não é o Rei que permanece igual mas a essência dos seus atos e da sua coragem – o seu mito.

Pessoa não está a divinizar a figura de D. Sebastião mas sim a importância do seu mito. O mito injetará nova vida no que está morto – o corpo de Portugal – e é “Esse” que regressará.


OBSERVAÇÕES: segunda estrofe em forma de interrogação e resposta: oposição entra a primeira estrofe (passado) e a segunda (presente e futuro), que tem por mediador o “sonho”.



O Desejado

Onde quer que, entre sombras e dizeres, (Mesmo que a memória de D. Sebastião ande por sombras e rumores)
Jazas, remoto, sente-te sonhado, (Mesmo que jaza escondida, ela pode ser reavivada pelo sonho)
E ergue-te do fundo de não-seres (Erguendo-se do facto de não existir)
Para teu novo fado! (Para novamente gerar vida)


Vem, Galaaz com pátria, erguer de novo, (Vem, cavaleiro nobre da nação, erguer de novo o país)
Mas já no auge da suprema prova, (Agora em altura de grande dificuldade)
A alma penitente do teu povo (Vem renovar a alma dos portugueses)
À Eucaristia Nova. (Com o exemplo e a liderança da tua imagem e símbolo)


Mestre da Paz, ergue teu gládio ungido, (Mestre da Paz, ergue a tua memória de guerreiro de Deus)
Excalibur do Fim, em jeito tal (O teu direito divino, a tua verdade)
Que sua Luz ao mundo dividido (Para que a luz que irradia do teu mito caia no mundo divino)
Revele o Santo Gral! (Revelando a sua verdade)



Análise da 1ª estrofe

D. Sebastião é agora apenas uma memória que anda entre as sombras e dizeres. É certo que muito do que é o Sebastianismo se deveu a uma forte tradição oral, muitas vezes secreta, porque era exercida em épocas de opressão ou falta de liberdade.

Se esse mito jaz sempre “remoto”, basta que “o sonhem”, para ele vir de novo à realidade. Pessoa invoca claramente o mito, para que ele venha trazer nova vida ao “corpo morto de Portugal”.

“O novo fado”, é a nova missão que agora cabe ao mito. Houve já um fado para D. Sebastião homem, que é imensamente diferente do fado que espera o D. Sebastião mito.



Análise da 2ª estrofe


Pessoa compara o mito de D. Sebastião ao mito de Galaaz (Sir Galahad). Segundo a lenda, Galaaz, filho de Lancelote, era um cavaleiro nobre, de grande pureza, que – com Percival e Bors – conseguiu achar o Santo Gral, sendo levado de seguida para o céu. Nenhum cavaleiro da Távola Redonda tinha uma nação – apenas uma cidade fortificada chamada Camelot – de onde partiam em batalha.

Pessoa compara D. Sebastião, em nobreza e carácter, a Galaaz, quando diz que ele é um “Galaaz com pátria”. Pedindo, pede-lhe não um ato de guerra mas de paz – como era a missão mais alta de Galaaz uma missão suprema de paz: a descoberta do Santo Gral.

“No auge da suprema prova”, pode quere referir-se ao facto de este ser um momento crucial na história, um momento ideal para a renovação, sendo igualmente um momento de grande desolação e pobreza intelectual e política. Por isso a “alma penitente do teu povo” uma alma em ruína que sofre os castigos de ser mal dirigida.

Pessoa quer “erguer de novo” essa alma, mas à “Eucaristia Nova”, ou seja, não basta o mito existir, ele deve prevalecer como religião.



Análise da 3ª estrofe


Pessoa introduz uma referência Templária: “Mestre”, cruzada com uma referência Rosa-cruciana: “da Paz”. A paz profunda consigo próprio é o objetivo último da investigação íntima dos rosa-crucianos, a ser atingida através de princípios de fraternidade universal.

D. Sebastião aparece novamente como cavaleiro mas da paz, guerreiro da fraternidade universal. O seu “glário ungido” não traz o conflito mas a mudança. “Excalibur do fim”, reforça esse final: é uma espada, mas símbolo da paz infinita, do último reino, reino do fim. Tanto é assim que da espada jorra “Luz ao mundo divino” para que se “revele o Santo Gral”, ou seja, o símbolo de D. Sebastião, traz uma luz de comunhão – que é luz de conhecimento, de união – a um mundo nas sombras, dividido e sem ordem.






O Encoberto


Que símbolo fecundo (Quem símbolo é um mito que concebe a vida)
Vem na aurora ansiosa? (Vindo na claridade antecipadora do nascer do sol)
Na Cruz morta do Mundo (No mundo morto, como Cristo na Cruz)
A Vida, que é a Rosa. (É a vida, a rosa cruciana)


Que símbolo divino (Que mito de origem divina)
Traz o dia já visto? (Traz o novo dia, que já se adivinha)
Na Cruz, que é o Destino, (No mundo de sofrimento)
A Rosa, que é o Cristo. (É Cristo na Rosa)


Que símbolo final (Que símbolo redentor)
Mostra o sol já desperto? (Mostra a verdade)
Na Cruz morta e fatal (No mundo novo, que nasce sem regresso)
A Rosa do Encoberto. (É o Encoberto na Rosa)


Análise da 1ª estrofe

Pessoa questiona, retoricamente, quem é o símbolo perfeito para a nova religião, aquele que vai substituir Cristo na Cruz.

“Que símbolo fecundo/ Vem na aurora ansiosa?”, pergunta ele. Perguntando, anuncia que a vida morta precisa de um “símbolo fecundo”. Já vimos que é o mito que fecunda a vida, que lhe traz significado. A vida morta, “aurora ansiosa”, dia que quer nascer, espera essa renovação.

Pessoa de seguida responde à sua própria questão: “É a Rosa”, “a Vida”, que tomará o seu lugar na “Cruz morta do Mundo”. Trata-se de uma referência maçónica direta à Ordem Rosa-cruz, antiga ordem detentora de conhecimentos antigos esotéricos.

Nesta estrofe, a Rosa representa a vida e a Cruz, a morte.


Análise da 2ª estrofe:


O símbolo que já era “fecundo” é agora, também, “divino”. É importante notar que o significado do mito é que é divino e não o próprio D. Sebastião. Este símbolo “traz o dia já visto”, ou seja, traz a nova verdade.

Nesta estrofe a Cruz representa “o Destino”, o sofrimento e a Rosa representa Cristo.

Análise da 3ª estrofe:


O símbolo que era fecundo e divino agora é também “final”, ou seja, é o símbolo definitivo que trará o Império final, o Quinto Império, além do qual não existirá nenhum outro, nenhuma verdade maior.

Este símbolo mostra agora o “sol já desperto”, ou seja, a revelação do mistério, o conhecimento definitivo.

A Cruz é fatal porque conhecendo a verdade já não se pode voltar ao passado de ignorância. Nesta “Cruz morta e fatal” está agora “a Rosa do Encoberto”. E assim Fernando Pessoa anuncia o que será a “Religião do Encoberto”. A Rosa identifica-se com o “Encoberto”, ou seja, a Rosa (o alvorecer) encontra-se, unindo-se, com o Encoberto (o mito regenerador).




Na obra “Mensagem” de Fernando Pessoa, D. Sebastião perde, progressivamente, o aspeto humano, de forma a tornar-se um símbolo absoluto e puro.


Em “D. Sebastião, Rei de Portugal” (na parte das “Quinas”), D. Sebastião é ainda homem, “louco”, mas homem de carne e osso, com desejos e vontade própria.



Em “D. Sebastião” (parte dos “Símbolos”), o homem deixa de ser rei, dissolve-se carne e osso no drama da sua morte.


Em “O Desejado” D. Sebastião perde também o nome depois de perder a coroa e o corpo sendo quase um símbolo puro.


Em “O Encoberto” D. Sebastião perde agora também a consciência de uma memória, para ser agora um símbolo absoluto.



Como se pode ver a obtenção de símbolos é um processo complexo em que se parte de bases brutas (o homem e a realidade) e evolui-se lentamente, intelectualmente (como é característica de Pessoa), para a obtenção do símbolo.





Os Lusíadas

Dedicatória

6
E vós, ó bem nascida segurança
Da Lusitana antiga liberdade,
E não menos certíssima esperança
De aumento da pequena Cristandade;
Vós, ó novo temor da Maura lança,
Maravilha fatal da nossa idade,
Dada ao mundo por Deus, que todo o mande,
Pera do mundo a Deus dar parte grande;
9
Inclinai por um pouco a majestade
Que nesse tenro gesto vos contemplo,
Que já se mostra qual na inteira idade,
Quando subindo ireis ao eterno templo;
Os olhos da real benignidade
Ponde no chão: vereis um novo exemplo
De amor dos pátrios feitos valerosos,
Em versos divulgado numerosos.
10
Vereis amor da pátria, não movido
De prémio vil, mas alto e quási eterno;
Que não é prémio vil ser conhecido
Por um pregão do ninho meu paterno.
Ouvi: vereis o nome engrandecido
Daqueles de quem sois senhor superno,
E julgareis qual é mais excelente,
Se ser do mundo Rei, se de tal gente.
15
E, enquanto eu estes canto – e a vós não posso,
Sublime Rei, que não me atrevo a tanto –,
Tomai as rédeas vós do Reino vosso:
Dareis matéria a nunca ouvido canto.
Comecem a sentir o peso grosso
(Que polo mundo todo faça espanto)
De exércitos e feitos singulares,
De África as terras e do Oriente os mares.



Dedicatória: Canto I estrofes 6 a 18

A dedicatória não era um elemento estrutural obrigatório do género épico, mas Luís de Camões decide dedicar o seu poema ao rei D. Sebastião, a quem louva pelo que representa para a independência de Portugal, para o aumento do mundo cristão e pelo grandioso Império de que é senhor.

No início da Dedicatória, Camões, dirigindo-se ao rei, chama-lhe «bem nascida segurança» porque vê nele a garantia da independência nacional e a continuação da expansão do cristianismo.

Apesar de D. Sebastião ser muito novo quando a obra foi escrita, Camões já via que o jovem rei se mostrava altivo sugerindo-lhe que pusesse os olhos no chão, ou seja, que visse as pessoas que governava pois era um povo nobre, notável que não era movido pela ganância, referindo-se à sua obra como “um pregão do ninho meu paterno”.

Quando diz: “Tomai as rédeas vós do Reino vosso” Camões tenta que o jovem rei veja a responsabilidade do cargo que ocupava e a necessidade dele se transformar no continuador dos seus ilustres antepassados, dos que tinham traçado as fronteiras do reino, dos que lutaram para as manter e dos que as estenderam para além do seria expectável, atendendo ao pequeno país que Portugal era antes das descobertas ultramarinas.

Para além do elogio ao rei, Camões pretende convencê-lo a aceitar o seu canto, por isso recorre a uma linguagem argumentativa, enaltecendo as qualidades do povo português.





Canto X


Para além da dedicatória, Camões também critica D. Sebastião nas últimas estrofes do Cato X, nas quais o poeta pede ao rei que seja humano e olhe para os seus súbditos e repare no sofrimento que eles suportaram para engrandecer a nação; pede-lhe que os «favoreça», impedindo que a dureza das leis os esmague; também lhe pede que dê ouvidos aos homens que sabem do que falam, aos «mais esprimentados» e que não deixe os padres ter um poder excessivo já que nem o dinheiro nem o poder os tornam úteis à comunidade e à evangelização dos infiéis.

148
Favorecei-os logo e alegrai-os
Com a presença e leda humanidade;
De rigorosas leis desalivai-os,
Que assi se abre o caminho à santidade.
Os mais esprimentados levantai-os,
Se com a espriência tem bondade,
Pera vosso conselho, pois que sabem
O como, o quando, e onde as cousas cabem.
149
Todos favorecei em seus ofícios,
Segundo tem das vidas o talento;
Tenham Religiosos exercícios
De rogarem por vosso regimento,
Com jejuns, disciplina, pelos vícios
Comuns; toda ambição terão por vento,
Que o bom Religioso verdadeiro
Glória vão não pretende, nem dinheiro.

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2 comentários:

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